Sou toda a possibilidade de não ser.
Não estou.
Confuso, parti.
E aí também não cheguei.
Permaneci em mim
Ainda assim,
Não sendo.
Ah! Furtei-me do delírio consciente dessa presença constante: Eu estar!
Não procuro mais em mim nada daquilo que existia. Tudo esta a se perder. Não neguei.
Se de tudo isso fosse tão pouco, pouco me importaria saber. Ainda trago a desconfiança encardida num sorriso oco. Aspiro só, contraindo meus braços em volta de tudo, que por pura ironia se distancia, abarcando todos os outros risos. Há dias que queimam, ardidos e avessos alguns pensamentos que não componho. Sou um intruso dentro de mim mesmo, respondendo em voz alta, teu olhar calado.
De tudo somos somente nós.
A saudade às vezes desespera. Chove a alma, faz aos poucos cinzas. Às vezes te vejo cinderela, outras, fecho os olhos e peço socorro.
Às vezes perco o teu sapato, noutras te calço de mim. Deixo-te solta, perambula numa nuvem. Surta. Sente-se provocada, provocante.
Às vezes um terço, outras apenas de sustento. Perigo percorrer os espaços teus e preenche-los do meu nada insistente.
Deturpo teus sonhos, ouso copiá-los dentro de mim. Intruso. Entroso nossas mãos num balanço.
A saudade, às vezes, desperta.
Coloco tua voz dentro do meu ouvido. E te vivo. Troco meus pés de direção e sigo numa dança sem sentido. Me acanho, traço um plano, tanto tropeço que canso. Peço um tempo. Ouço. Tento. Afago.
Coloco minha voz dentro do teu ouvido. Eu grito. Um giro constante de pés descalços. Mas você não foge. E tento. Nem num falso descaso feito qualquer apelo. Nesse tempo. Resisto.
Provoco em nós, suspiros.
Não me turvo ao volume dispendioso do que queres. Sou curioso. Enterro um mundo todo sobre os escombros do que a gente mesmo acreditou. Estou sempre a tentar: teu jeito ingênuo. E na verdade, ainda me assombro. Mostre-se que eu me ouso. Sou esse sonho cheio de realidade, sou feito de saudade. Dos teus olhos lacrimejados da ultima despedida, ali na rua, distante do dia que voltarei.
Encontro alguns olhos tecendo brilhos. Me Insinuo com sorrisos puros. Trilho suas mãos, alcançando a imensidão invisível destes dias esquecidos longe do nosso olhar. Tudo aqui para. Para continuar aqui.
Gargalhadas amassadas com os rostos colados. Arrasta meu coração pra perto dos céus. As nuvens nem tão brancas, coradas de nós. A sós brincamos, desenhando esses dias com as tintas invertidas.
Inventamos outra vida, sem sair daqui.
Temo tua história confundindo-se com a minha. Escondo-me do teu olhar, envergonho-me quando meu corpo se envaida com suas palavras cruas. Não me tire daqui, não me leve ao teu mundo, não me puna com a absurda idéia de te querer. Só te quero assim, calado. Distante dos meus sonhos não me perco. Acho-te apressado, roendo a vida ao meu redor. Tento... Me perco.
Sou essa confusa profusão de achar que nada acho em você.
Rejeito olhar para cima. Aqui me cisma uma escuridão onde tudo se esconde. Todos. Cutuco o improvável para descobrir aquilo que ainda nem penso. Estou tenso.
Propenso a me acostumar com seu ombro, teu sossego. A deixar correr os dias sem sentido, inverter a luz distante, que dança acostumada ao ritmo.
Não deixar que nada me leve daqui, além dos meus pés.
Nada daquilo que quer se dito encontra-se com as palavras. Tudo sobra à sombra dos olhos que se perdem, dos tolos passos, pouco distante, disputando espaço, procurando um palco, recusando algo entre as mãos.
Existe um embaraço nesta via de minha autoria, que brinca de palhaço, apostando numa falsa coesão.
E são tantas dessas várias frases que escrevi, que você cansou de ler. Já não me lamento mais. São esses olhos preguiçosos de expressão.
Só sou um tosco processo de fusão. Fudi(n)do!
Procuro dizer. Mais de mil maneiras. Ontem ainda havia sol. Estou tão cansado. Gritos ecoando. Um vento irritante. Um beijo na imaginação. Fuga de pensamentos. Outros difusos. Coceira no queixo. Um olhar distante. Sorrisos ali de longe. Quase do lado. Corpo na cama. Um barulho de água. Música. Algo que me exclui. Simplesmente esqueço. Não queria ouvir. Voz.
Eu não estou dizendo nada...
Escape suavemente pelas minhas mãos. Não deixe para trás o prato sobre a mesa, o retrato na parede ou a saudade espalhada pela casa. Não ouse aquela roupa que lhe deixa mais bonita, ou aquele charme preguiçoso. Não roube para ti os meus discos favoritos, os meus dias castanhos, nem os mais doloridos sorrisos e estranhos bocejos.
Não me consuma como litros de perfume barato. Mas assuma aos meus olhos a sua ausência, permita aos meus lábios a essência pervertida de qualquer outro, dado ou roubado. O seu ultimo suspiro num peito em pleno vôo. Que não sei se cai, ou vai...
Pouco importa se te combina. De mim só saberá tudo aquilo que eu lhe contar.
Frio na sensação de sufoco. Por pouco perco outro braço e acabo de vez com esse passo restante. Amasso o passado, mudo o curvo decline – eu e a queda livre – para a reta distante de antes da razão.
Abro mão do diálogo. Outro, por pouco, sussurro discrepante. Os olhos pesados, carregados de máculas, trágicas cenas. Todas as incertezas reunidas e o vulto curioso, do bobo despertar da tala inóspita, mantendo forma ao sinuoso poço.
Por fim, um vão, Eu em...
Quero qualquer pedaço teu que me faça feliz. Quero te tragar pelo nariz, açoitar sua pele com meus desejos, te vigiando enquanto atriz, abusando-me num cortejo incessante, imaginando teu corpo rasgado ao lado do meu.
Me quero com qualquer embaraço teu. Fantasiar tua loucura, espalhando-nos como em todas as palavras escritas. Atacar o silêncio. Palavras macias. Vento no ouvido com um suspiro.
Provei do esquecimento, e do olhar esquisito falando qualquer outra língua. Um abraço apertado, uma palavra pra despertar qualquer compreensão, e me descobri mudo. Contorno teu rosto como num desenho, forjando um sorriso, destes que venho guardando sozinho.
Confesso: não há qualquer lembrança. Ainda que tanta gente passe, estou com meus olhos fixos e ansiosos. Atropelo as palavras e me canso com tantos enganos, ouvindo risos vindos do elevador, enquanto planto a arrogância de ser persistente.
Faço chover alguma semelhança, autozinho à minha infância a ignorância. E uso todos os sorrisos.
Persigo a incoerência de seus passos. Abusa a forma com que teus olhos caminham, derramando lápides pesadas, assombrando minha mente inquieta.
O perigo é me acostumar a te perder por alguns minutos. E hoje você não estará mais aqui. Mas continuarei preparando a casa pra você chegar. Olhando pela janela, escondido, vigiando o portão se abrir, torcendo pra que você ache que eu não me importo, procurando teus anseios em cada gole, em todo veneno que cuspi.
Decreto luto a mim mesmo, pois renasço depois do ponto final. Em cada palavra que ficou, sou eu morto.
Estamos indo embora. Partindo munidos de algumas lágrimas, ainda que catemos um amor ingênuo pelos ventos frios que contam em nossos ouvidos outras histórias conhecidas. Não sentimos frio, dissolvidos pela dúvida de conhecermos ou não esses outros passos, que não gostaríamos de viver.
Amo, indubitavelmente, mesmo que essas outras formas pálidas, esquecidas sob o pó mesquinho de tudo que a gente prefere não enxergar.
Respiramos sorrisos e escrevemos estórias de amor assim, mesmo sem aparecer.
Canto com o canto do lábio pra ninguém me ouvir. Sussurro as palavras esperando um sorriso. Perturbo a estática, me comprometo com a insanidade. Fujo das verdades ditas... Eu estou sempre fugindo.
Enrosco-me na pressa de saber o que será, quando não houver mais nada.
É a canção que não pára, eu só me engasguei.
Vou fazer especulações enquanto dorme. Perder o sono sonhando.
Projetar no muro da nossa casa imagens coloridas
Cercas, árvores, sol, brincadeiras...
Vou começar de novo. Enfeitar a boca com sorrisos
Esquecer os lábios discutindo, os “nãos” e “porquês”
Abaixar a cabeça, deixar a luz acesa. Correr atrás das crianças, rolar pela grama. Deixar a vida bater na cara, rimar as vidas enquanto dança, fazer ciranda. Tranças na minha barba e bolhas de sabão.
Faz-de-conta que canta a alma, enquanto sonha.
Ainda que da alma vazasse certo pudor, nada adiantaria. Há de se arranhar com esses espinhos toda sua altura, sem de longe vê que estamos apenas aqui embaixo. E estamos vivendo sem olhar pra cima.
Pudera acostumar-se com tantas formas sem notar os nossos quase círculos. Pudera partir e voltar tantas vezes, sem se dar conta.
“Corre, corre, corre, que vai chover...”
Não entendo sua forma de amar. No nosso pequeno mundo já não sei mais quem sou eu, quem é você e o que é a sobra de nós. A angústia que rola pela face. Toda aquela vontade de não ser nada daquilo. Deixar você partir, enquanto seguro tua mão. Não te solto... Vá!
Estas luzes dissonantes. A curta curva onde te espero e de onde você não sai. Gritamos algumas lágrimas que alcançam estas luzes. Gritamos! Não queremos o silêncio da despedida, preferimos a briga todos os dias.
Não entendo o que é amor, mas te amo!
Vivo!
Não por felicidade, mas talvez por importância. Mesmo que não seja nada importante. Por representar, não uma peça, não um personagem ou nada mais do que simplesmente estar presente.
Viver: não por estar respirando, sentir o coração pulsando – há quem viva apenas no pensamento.
Não tenho medo da morte então, mas de ser esquecido.
Outro dia, preguiça de viver. Folheio o “próximo blog”, leio, comento, leio, leio, leio... Quanta gente já pensou aquilo que eu iria escrever. Tantos iguais se escondendo atrás de máscaras diferentes. Todos pedindo um abraço e se fingindo sem braços. Eu finjo, como todas as outras vezes.
Me desgasto, pensando em como descansar e desmaio quando já não sei mais o que fazer. Outro dia longo, procurando aquela estrela neste dia tão claro. Finjo ser as nuvens, mas sei que é o sol que não me deixa vê-las. Eu finjo.
Finjo não escrever nada, querendo que todo mundo me leia. Qualquer besteira, pra ser assim, sem pretensão, ser pretensioso.
Aquela sensação leve do passado... Quase que esqueço como tudo existe, parado no tempo, sem perceber o quanto caminha e, assustadoramente, tudo de afasta do que um dia foi. Sensação de diferente, inesperado, contraditório... Do sorriso que se anima com nossa surpresa, ou para minha surpresa.
Escondo-me, e pela janela vejo o mundo acontecendo lá fora. Sorrio! Mesmo perturbado com esse cheiro de você, que passou por mim.
Comecei a gostar do Pessoa quando um amigo me apelidou assim. Um desses amigos raros que gostam de inflar o teu ego. E ele fazia isso muito bem. Obvias saudades...
É óbvio também que, apesar de ter adorado o apelido, nunca pude ser comparado ao mesmo, em nenhum aspecto. Fato é que comecei a lê-lo e me encaixar em seus pensamentos.
A poesia abaixo reflete tudo, e não é preciso dizer mais nada:
(Fernando Pessoa)
Quando paramos pra pensar na vida, percebemos o quanto é impossível compreendê-la. Somos um emaranhado de sentimentos que se fundem com sentimentos de outras pessoas tão mais confusos quanto os nossos. Às vezes nos sobra uma lágrima numa demonstração furiosa de amor, enquanto amamos cuidadosamente.
Sem pretensão não me sobra nada. Sou um agora, esperando saber o que há depois. Não me sobra nem um olhar daquilo que eu procuro ser, e me contento em assombrar meus próprios passos.
Não finjo, eu minto! Porque a verdade só faz acalmar nossos sentimentos.
Estou cansado! Física e mentalmente. Os problemas parecem se acumular uns sobre os outros. Não há mais nada à fazer, além de resolve-los, obviamente. Minha testa franzida e meu olhar ríspido cortejam a insensatez do dia frio.
Olho em minha volta e sorrio. “Podem até maltratar meu coração, que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar”. A verdade é que isso sempre fez algum sentido em minha vida. E ainda faz, mesmo quando remou constrangido tudo aquilo que sou, nunca canto encolhido.
Sou uma contradição de agora, e o fim deste parágrafo. Mas assim que gosto de ser. Entre frases bem pensadas, palavras que escorregam entre os dedos sem querer e o “tudo bem” no início de qualquer conversa.
Vou viver a miséria das amizades.
Hoje posso fingir esse sorriso, mas ainda tenho medo do mundo que vejo ali pela fresta da porta. Escuto-o, mas não me atrevo a responder. Sei que tenho que enfrentar muito mais coisas, mas meu corpo ainda fraqueja, se finge de morto: não caminha e nem suspira. Penso duas ou três vezes, só porque sei que enquanto penso, não preciso agir. E finjo não precisar agir.
Não há muitas explicações a dar agora. Talvez nem muito o que falar.
Estou aqui apenas para escrever quando necessário. E o que for necessário. Porque todos têm necessidade de colocar pra fora aquilo que prendemos com todo cuidado. As vezes uma lágrima, as vezes um sorriso, outras apenas a necessidade de ser diferente de tudo aquilo que estamos acostumados ser.
Vou fugir da rotina e das palavras que não costumo dizer. Nem sempre alguém quer ouvir, mas na maioria das vezes somos nós mesmos que não queremos dizer. Então aqui eu grito, bem baixinho e escondido por debaixo das cobertas, mas meu grito, com certeza afastará a mosquinha que passa em minha frente, perturbando-me.
Não vou dizer nem oi e nem tchau. Porque aqui cheguei, como vou partir em qualquer momento, sem que seja obrigado a nada.