Falta
Todo um vazio
Que sobra
...
...
...
Num abraço.
Não roubei teus discos ou teus vícios. Deletei-me da inconsciência da companhia solitária, alardeando somente à mim qualquer besteira. Não me lembrei de esquecer qualquer coisa que nunca havia dito. E insisto: nada como outro que não eu. Há de me cumprimentar, pois sei que a solidão é tão melhor suportada quando estou só.
Não sou o que faço ser. Nem sei se sou o que finjo. Não insisto em ti porque o que existe aqui não é ser de fato só. E assim em mim não há. Nem lá. Aqui muito menos o ar.
Cá estou, em algum lugar por ai. Sem rir, mostro os dentes. Choro também sem lágrimas. E não dá, de lá, estar aqui.
Por pouco, cheio de curvas. Denso, dentro dessa névoa, toco-me sem me sentir.
Não estou aqui, quando falo de mim. Perco-me a tarde, quando chego assim. Poucas coisas minto, quando digo, porque sou algumas tolas verdades.
Não brinco de mentiras, mas insisto em todas as verdades que não digo.
Às vezes crio essas vozes vazias e tento dizer aquilo que me cala.
Eu ainda não sou, e nem aqui estou.
Mas não me amargo. Este sorriso sincero é aquém do que quer transformar.
Solicito à mim, o que agora sou eu. E creio que de mim, nada me restou.
Lembro-me bem ainda de tudo que se faz.
Ah! Furtei-me do delírio consciente dessa presença constante: Eu estar!
Não procuro mais em mim nada daquilo que existia. Tudo esta a se perder. Não neguei.
Se de tudo isso fosse tão pouco, pouco me importaria saber. Ainda trago a desconfiança encardida num sorriso oco. Aspiro só, contraindo meus braços em volta de tudo, que por pura ironia se distancia, abarcando todos os outros risos. Há dias que queimam, ardidos e avessos alguns pensamentos que não componho. Sou um intruso dentro de mim mesmo, respondendo em voz alta, teu olhar calado.
De tudo somos somente nós.
A saudade às vezes desespera. Chove a alma, faz aos poucos cinzas. Às vezes te vejo cinderela, outras, fecho os olhos e peço socorro.
Às vezes perco o teu sapato, noutras te calço de mim. Deixo-te solta, perambula numa nuvem. Surta. Sente-se provocada, provocante.
Às vezes um terço, outras apenas de sustento. Perigo percorrer os espaços teus e preenche-los do meu nada insistente.
Deturpo teus sonhos, ouso copiá-los dentro de mim. Intruso. Entroso nossas mãos num balanço.
A saudade, às vezes, desperta.
Coloco tua voz dentro do meu ouvido. E te vivo. Troco meus pés de direção e sigo numa dança sem sentido. Me acanho, traço um plano, tanto tropeço que canso. Peço um tempo. Ouço. Tento. Afago.
Coloco minha voz dentro do teu ouvido. Eu grito. Um giro constante de pés descalços. Mas você não foge. E tento. Nem num falso descaso feito qualquer apelo. Nesse tempo. Resisto.
Provoco em nós, suspiros.